domingo, 27 de junho de 2010

Nóias, punguistas e skinheads

Trecho do meu romance Paroxetina, em que o narrador-personagem manifesta sua opinião sobre os skinheads:

(...) E ameaçados estão também os cidadãos comuns que ousam circular de noite pelo centro da cidade. Correm sérios riscos de ser assaltados e agredidos por nóias, punguistas e skinheads. Estes putos que massacram negros, homossexuais, judeus e nordestinos. Garotos e garotas de boa família, desgraçadamente esperançosos e bem nutridos. Filhos da mesma elite econômica que vive acastelada em condomínios hermeticamente fechados. Não entendo por que esses pulhas não agem como a maioria dos garotos dessa idade. Por que não se macaqueiam em shows de rock e heavy metal? Por que não se chupam uns aos outros como fazem os integrantes das boy (or girl) bands? Por que não tomam os corredores dos shoppings centers e promovem verdadeira barafunda, munidos de celulares, iPods, Mp3, 4, e o caralho? Por quê, Senhor, esses anjinhos de roupa preta e cabeça raspada não param de cultuar a besta austríaca que assombrou a humanidade no início do século passado e agora arde nas profundezas do inferno? Uma brincadeira nada salutar, não? Por que não se juntam à caterva que vibra e louva Nossa Senhora Aparecida nas festas de peão sertanejas, nos rodeios? Por que eles simplesmente não se trancam num apartamento qualquer e cometem suicídio coletivo, ou vão dar a bunda na Internet? E finalmente (porque isto já está pra lá de irritante, senhoras e senhores), por que os pais ou responsáveis por esses adoradores da morte não pegam os mesmos badulaques, correntes e socos ingleses que suas crias carregam, e tratam de enfiar tudo isso em seus rabos arianos e neonazistas. Pois enquanto isso não acontece, esses linchadores continuam a infernizar a vida da gente de bem. Queimam índios e mendigos e espancam proletários que rumam de volta a suas casas após um dia inteiro de trabalho. Em casos como esse, todo o meu reacionarismo aflora, e penso em sofisticados métodos de tortura, prisão perpétua e penas capitais.

3 comentários:

  1. E ainda que aflore (Em casos como esse, todo o meu reacionarismo aflora, e penso em sofisticados métodos de tortura, prisão perpétua e penas capitais.) deve voltar para os porões da mente que merecem estar, aos grilhões da razão e da HUMANIDADE que permitem ser sujeito crítico e não o alvo da crítica.

    Bela opinião do narrador-personagem.

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  2. Cláudio, grato pela visita.

    André Lucas, você tem toda razão: não devemos nos deixar levar pelas paixões, pois elas são sempre o motor de atrocidades.

    Abraço a todos!

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